Papa condenou "carreirismo" na Igreja quando era arcebispo
"Quando o papa era um rei espiritual, mas também deste mundo, as intrigas da corte misturaram-se com tudo. Mas não se continuarão ainda a misturar com tudo?", afirmou Jorge Bergoglio em 2010, de acordo com os excertos publicados pelo semanário italiano Panorama.
"Sim, tudo isto continua a acontecer porque há ambições entre os homens da Igreja, infelizmente ainda existe o pecado do carreirismo", declarou.
O livro "Entre o céu e a terra" - cuja edição italiana deverá ser publicada até final do mês - é uma compilação de entrevistas com Jorge Bergoglio e o seu amigo Abraham Skorka, que também é de Buenos Aires e é o reitor do Seminário rabínico larino-americano na capital argentina.
Bergoglio também delineou a sua visão da liderança religiosa, percusora do estilo humilde que tem mostrado nos primeiros dias de pontificado.
"Quando um padre é o líder de uma diocese ou uma paróquia, tem de ouvir a comunidade para amadurecer decisões e servir de guia no caminho. Quando se impõe e de alguma forma diz 'eu dou as ordens', cai no clericalismo", disse.
Bergoglio também considerou que a Igreja deve dialogar com a vida política, mas tem que ser cauteloso para não escolher lados e realizar "negócios secretos" com políticos.
"Tudo o que um ministro religioso faz é um ato político, mas alguns misturam-se com a política", comentou, estabelecendo uma distinção entre um sentido mais restrito e outro mais lato de "política".
"A religião é um tesouro ao serviço das pessoas, mas se começa a misturar-se com a política e a impor coisas, de forma pouco clara, então transforma-se num instrumento de um poder perverso".
Na obra, Bergoglio refere-se também a São Francisco de Assis, o santo italiano cujo nome escolheu ao aceitar ser papa.
São Francisco "trouxe à cristandade a perceção sobre o luxo, orgulho e vaidade dos poderes civis e eclesiásticos da época", considerou.
"Ele mudou a história", disse o então arcebispo de Buenos Aires.
O cardeal argentino jesuíta Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, foi eleito papa a 13 de março pelos 115 cardeais reunidos em Roma, escolhendo o nome de Francisco.
Francisco sucede a Bento XVI e é o 266.º papa da Igreja Católica.